17/05/2025 –, Tula Pilar
Idioma: Português brasileiro
Crítica hacker-fanoniana ao uso de tecnologias como I.A.s e drones, utilizadas por Israel no genocídio do povo palestino.
O uso de inteligência artificial na guerra, acompanha o desenvolvimento de ciberarmas e dispositivos não tripulados, operados remotamente ou por i.a., que servem a vários fins: desde o vigilantismo em massa à decisão de um drone executar ou não um alvo humano. O exemplo atual de uso da I.A. Lavender, utilizada pelos militares israelenses, para reconhecimento de alvos palestinos, reforça a necessidade de compreensão destas tecnologias. Neste sentido, propomos analisar as relações entre inteligência artificial, ciberguerra, dentro do fenômeno do colonialismo digital. Têm sido cada vez mais frequentes as notícias de uso de I.A.s em guerras, assim como ciberataques, e os primeiros de grande potencial destrutivo foram executados pelos vírus Flame, StuxNet, Duqu e Gauss, que foram utilizados no início da década de 2010, para sabotar o programa nuclear iraniano.
Em 1925, Walter Benjamin escreveu o ensaio As armas do futuro: Batalhas com cloroacetofenona, difenilamina cloroarsina e sulfeto de dicloroetila, analisando as novas dinâmicas sociais oriundas do terror químico das novas armas, apresentadas na I Guerra Mundial (1914-1918). Em 1959, Fanon estudou as tecnologias da guerra colonial, desde o jamming - na guerra eletrônica dos militares franceses contra o povo argelino, passando pela guerra de informação nas mídias, até mesmo o uso da medicina, como elemento para potencializar a efetividade das sessões de tortura.
Desde a época do escândalo Snowden, os dispositivos de vigilantismo evoluíram do Cyclone Hx9 da NSA ao Pegasus da NSO e ao uso da I. A. de reconhecimento como Lavender, as ciberarmas de vigilantismo digital se desenvolveram a níveis que permitem vigiar e controlar dissidentes, jornalistas e possíveis whistleblowers, além de seu uso para espionagem industrial e seleção de alvos para “neutralização” (assassinato seletivo). O software Pegasus, da empresa israelense NSO, e um similar da corporação emiradense DarkMatter chegaram a ser negociados por membros da equipe de marketing do Governo Bolsonaro, para captura de informações e dados. A ferramenta de monitoramento permite a captação de todos os dados e metadados de smartphones, facilitando também o uso de microdirecionamento com big data. Assim, o uso destas tecnologias em cenários de guerra, passam ao uso em massa nas sociedades, como o exemplo do reconhecimento facial no Brasil.
Walter Lippold é doutor em História pela UFRGS e editor da Proprietas. É pesquisador FAPERJ do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT Proprietas) da UFF. Membro do Grupo de Pesquisa História, Memória e Luta de Classes da UFF coordenando o tema História da Ciberguerra. É professor do Curso Uniafro da UFRGS e pesquisador de colonialismo digital, história da tecnologia, cibercultura, hacktivismo, da obra de Frantz Fanon e da história da Argélia. Membro do Coletivo Fanon, é autor de Fanon e Revolução Argelina e , junto com Deivison Faustino, escreveu o livro Colonialismo Digital: por uma crítica hacker-fanoniana (Boitempo, 2023)