CryptoRave 2025

A crise da moderação e o futuro das mídias sociais
17/05/2025 , Alan Turing
Idioma: Português brasileiro

As redes sociais não são apenas plataformas de publicidade – seu produto essencial é a moderação. Elas determinam o que pode ser dito e quem pode falar, moldando o debate público. Nos últimos anos, as Big Techs começaram a recuar desse papel, pressionadas por acusações de censura e ameaças regulatórias. Enquanto Zuckerberg afirmou que o Facebook não deveria ser "árbitro da verdade", Elon Musk flexibilizou a moderação do Twitter, permitindo o retorno de discursos extremistas, o que levou a protestos institucionais, como o boicote das universidades alemãs ao X.

Diante disso, governos são pressionados a agir, mas enfrentam um dilema: a falta de moderação degrada o espaço público, enquanto a regulação excessiva pode ameaçar a liberdade de expressão. A solução passa por governança comunitária, onde a informação seja tratada como um bem comum e a moderação ocorra de forma transparente e participativa. Redes federadas como Mastodon mostram que a descentralização técnica é possível, mas o desafio real é a criação de instituições comunitárias que garantam regras claras, monitoramento descentralizado e mecanismos acessíveis de resolução de conflitos.


As redes sociais não são apenas plataformas de publicidade ou algoritmos de recomendação – seu produto essencial é a moderação. Como argumenta Tarleton Gillespie em Custodians of the Internet, essas plataformas determinam ativamente o que pode ser dito, quem pode falar e sob quais condições. Essa moderação define a experiência dos usuários e mantém o ambiente atraente para anunciantes e investidores.
Nos últimos anos, porém, as Big Techs começaram a recuar desse papel, pressionadas por acusações de censura e ameaças regulatórias. Mark Zuckerberg declarou que o Facebook não deveria ser "árbitro da verdade", enquanto Elon Musk, ao assumir o Twitter, relaxou as políticas de moderação, permitindo o retorno de discursos extremistas e culminando no gesto nazista que chocou a opinião pública. Em resposta, instituições como as universidades alemãs abandonaram o X, destacando a moderação como um fator crucial para sua presença no espaço digital.
Diante dessa crise, governos ao redor do mundo vêm sendo pressionados a agir, seja com leis contra desinformação, seja com regulamentações sobre discurso de ódio. No entanto, esse cenário cria um dilema: a ausência de moderação eficaz transforma as plataformas em espaços propícios para ataques e manipulação, enquanto uma regulação estatal excessiva pode ameaçar a liberdade de expressão e abrir precedentes perigosos para controle político.
A solução exige uma abordagem que vá além da dicotomia entre o domínio das Big Techs e a regulação estatal. Precisamos de um modelo descentralizado, baseado em governança comunitária. Assim como ocorre com bens comuns, a informação digital deve ser tratada como um recurso coletivo que requer regras claras para evitar sua degradação. As redes federadas, como Mastodon e Pixelfed, demonstram que o desenvolvimento de software livre pode oferecer alternativas viáveis às plataformas centralizadas. No entanto, apenas descentralizar a infraestrutura não resolve o problema da moderação.
O verdadeiro desafio é a construção de instituições comunitárias que garantam regras de moderação transparentes, auditáveis e participativas. Para isso, é essencial seguir princípios como: regras adaptadas às condições locais, permitindo que cada comunidade defina normas apropriadas ao seu contexto; mecanismos acessíveis de resolução de conflitos, garantindo que as decisões sejam justas e revisáveis; e monitoramento descentralizado, onde os próprios membros participam da fiscalização.
O futuro das redes sociais não pode ser refém nem da arbitrariedade privada das Big Techs, nem da mão pesada do Estado. A saída está na criação de espaços digitais governados coletivamente, onde a moderação seja um processo democrático e previsível, assegurando tanto a liberdade de expressão quanto a preservação de um ambiente público saudável e confiável.

Márcio Moretto Ribeiro é professor e pesquisador, com formação em Ciência da Computação e atuação interdisciplinar. Leciona no curso de Sistemas de Informação da USP e coordena o Monitor do Debate Político CEBRAP. Seus estudos focam na polarização política, opinião pública e governança digital.