CryptoRave 2025

Tecnopolíticas de retomada: bifurcar para resistir
17/05/2025 , Ada Lovelace
Idioma: Português brasileiro

A proposição da Oficina "Tecnopolíticas de Retomada: bifurcar para resistir" é um desdobramento das oficinas realizadas nas edições 2024 e 2023 da Cryptorave. Pretendemos realizar junto aos participantes um diagnóstico das principais encruzilhadas tecnopolíticas contemporâneas, relativas à digitalização ubíqua e à expansão dos mecanismos de controle, extração e mercantilização da vida, e cartografar coletivamente iniciativas de resistência orientadas por horizontes de ação cosmopolítica, contra-colonial e anticapitalistas.

Um dos aforismos de “Um Manifesto Hacker”, de Mckenzie Wark, dizia: “os hackers usam seu conhecimento e sua perspicácia para manter sua autonomia”. Essa ainda nos parece uma formulação provocadora. Ao invés de nos mover na direção de uma “soberania digital” pensada nos termos da geopolitica dos estados-nação e seus projetos de poder e controle, preferimos nos perguntar: quais os arranjos sociotécnicos que podem sustentar autonomias ?


Nosso laboratório de experimentação tecnopolítica parte de um diagnóstico aterrador ao mesmo tempo que procura encontrar caminhos contra a atual paralisia: reconhecer os bloqueios e capturas que governam nosso tempo e imaginação sem nos render, mapear os inimigos sem abrir mão daquilo que nos torna capazes de agir e do que nos vincula. E o que nos vincula? Quais as formas de vida estamos dispostos a criar e defender?

Hoje, a situação dificilmente escapa de uma análise catrastrofista. Não só nosso sonho de liberação foi abatido, mas a reorganização dos regimes de poder e do capital se alimentaram da nossa vitalidade, transformando as noções de “liberdade”, “conhecimento aberto”, “livre circulação da informação”, “democratização da comunicação”, “inteligência coletiva”, “participação política” em ativos para a expansão e o fortalecimento dos sistemas de dominação.

Aliás: o que é autonomia? Entre outras coisas, pensamos em formas de vida que emergem nos intertícios dos circuitos de valor e espoliação do tecnocapital, territórios de interdependência multiespécie cujas formas técnicas estão voltadas à vida, à diversidade, ao tempo do cultivo lento, à reciprocidade e aos modos ativos de dispersar o poder e às formas de controle. Um território não precisa ser um espaço fisíco com fronteiras bem delimitadas, ele pode ser instituído a partir de relações que vinculam práticas e pertencimentos, cumplicidades e dissidências.

A gramática do extrativismo constitui a economia tecnopolítica civilizatória no presente global e faz convergir modos permanentes de espoliação e gestão autoritária para converter e administrar territórios vivos em zonas passíveis de serem sacrificadas. As ditas inovações tecnocientíficas recentes, ligadas à expansão das tecnologias digitais como os modelos de inteligência artificial, por exemplo, apresentam um novo ciclo de demanda crescente por energia elétrica e extração dos chamados metais raros.

Nos parece importante voltar às perguntas mais fundamentais como, por exemplo, que tipo de produção de conhecimento nos interessa? O que entendemos por eficiência? O que é o Comum que estamos dispostos a cultivar e defender? Nos parece que em nome da “transição energética” ou dos novos conflitos militaristas se renova o espírito da ideologia tecnopolítica da Guerra Fria na qual a ideia de “avanço tecnológico”, escalabilidade, automação e eficiência passam a dar as cartas, de forma mais decisiva, na geopolítica global e na legitimidade das formas políticas coloniais de domínio.

Como nossas imaginações e práticas coletivas de transformação podem retomar os vínculos com o desejo insurgente? Se o que constitui uma máquina é, sobretudo, suas ações de concatenação – talvez nossa potência não esteja na adoção de uma forma técnica supostamente libertadora ou mais justa, mas na força que conecta nosso desejo de liberação com nossas capacidades de experimentar, já no presente, outras formas de vida.

Manifesto: https://exlab.direitosnarede.org.br/?p=129

Professora titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura/UFRJ e no Instituto de Psicologia/UFRJ. É coordenadora do MediaLab.UFRJ, pesquisadora do CNPq e membro-fundadora da Rede latino-americana de estudos em vigilância, tecnologia e sociedade/LAVITS.

Pesquisador e ativista no campo das tecnopolíticas. É coordenador do Pimentalab - Labotório de Tecnologia, Política e Conhecimento, pesquisador da Rede LAVITS e da Red Tierra Comun. É professor do Departamento de Ciências Sociais da Unifesp

Jornalista e doutor em Comunicação, trabalha com comunicação e cultura digital desde 2008 a partir do BaixaCultura (https://baixacultura.org). É pesquisador e professor da Escola de Comunicação e Mídia (ECMI) da FGV, integrante do capítulo brasileiro do Creative Commons (https://br.creativecommons.net/) e da Coalizão Direitos na Rede.

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