CryptoRave 2025

Audionovela: uso da ficção em áudio nas redes de internet comunitária
17/05/2025 , Sala de Exposições
Idioma: Português brasileiro

A ficção como um dispositivo de fortalecimento comunitário é apresentada nesse estudo de caso sobre a criação de novelas em formato de áudio num bairro rural da Serra da Mantiqueira como meio de abordar coletivamente temas complexos de maneira eficaz e segura.


Ao propormos no Bairro do Souzas, morada da rede de internet comunitária Portal sem Porteiras, a criação de uma cartografia focada no reconhecimento e valorização de mulheres do território, nos deparamos com uma realidade não surpreendente mas impactante: evidências de um patriarcado que violenta e constrange emergiram nas falas de muitas durante os encontros do projeto de pesquisa.
O mapa ficou pronto e se tornou uma das atrações hospedadas na servidora da rede local da PSP. Já o conteúdo de algumas das partilhas, se exposto em sua realidade nua e crua, traria vulnerabilidade para as detentoras das histórias. Especialmente dado o contexto da pequena vila rural onde nos conhecemos todes tão intimamente. Mas como esse conteúdo poderia ser omitido e ignorado?
No desejo de abordar as tantas problemáticas que brotaram mas também preservar e proteger as mulheres que corajosamente se abriram, Marcela Guerra e Luisa Bagope decidiram por usar da ferramenta da ficção e da produção de áudio para dar vazão ao que pedia passagem. Através da criação de uma história baseadas nos fatos mas recoberta pelo verniz da ficção, encontraram uma maneira de trazer à pauta aquilo que se refugiava no silêncio.
Os próprios moradores do bairro protagonizaram essa história, participando como atores que deram voz às personagens, e auxiliaram na gravação dos efeitos sonoros que trazem dinâmica e vida à produção.
Assim nasceu "O Segredo da Montanha" e em seguida "Forasteiros", duas produções originais do bairro do Souzas.

A atividade visa fazer uma breve apresentação da técnica da audionovela como dispositivo para fortalecer processos comunitários e reforçar a ideia do uso da ficção como meio abordar assuntos desconfortáveis e complexos em contextos nos quais há maior risco ou resistência.

Luisa Bagope é diretora de documentários, focada em registrar manifestações culturais e políticas que visam repensar como abordamos o ambiente e a coletividade. Com o apoio da APC, tem documentado atividades de redes de internet comunitária no Sul global. Como parte da rede Portal sem Porteiras, Luisa coordenou o projeto Nodes That Bond, um processo de aprendizado coletivo feminista. Ao lado de Marcela Guerra, desenvolveu produções em formato de áudio, como o Nodecast, que se concentra em tecer conteúdo local para educação básica em tecnologia digital.
Presentemente atua na iniciativa LocNet como coordenadora de gênero na America Latina e Caribe.