17/05/2025 –, Chelsea Manning
Idioma: Português brasileiro
A adoção das TICs em diversas esferas resulta na crescente dataficação das atividades humanas, servindo a múltiplos interesses, do marketing ao controle estatal. Tecnologias como computação móvel, reconhecimento biométrico e Internet das Coisas formam uma infraestrutura de vigilância sobreposta e integrada, impactando a Internet, os direitos e as liberdades fundamentais, além de transformar o próprio tecido social e as relações humanas.
Neste contexto, algumas perguntas se apresentam: vivemos em uma sociedade que acumula práticas, valores e tecnologias de vigilância? Quais as consequências desse acúmulo? Como isso reconfigura nossas relações sociais?
Esta oficina discutirá como a vigilância se acumula social e tecnicamente, ampliando-se para diferentes esferas, como educação, saúde, segurança, trabalho e relações afetivas. O objetivo é explorar como essa expansão modifica interações cotidianas, produz novas assimetrias de poder e intensifica mecanismos de controle social.
A vigilância direcionada e em massa está cada vez mais presente. Spywares são utilizados para monitorar cidadãos, ativistas, jornalistas e adversários políticos. O mercado de produção e aquisição de dados tem sido usado para diversos fins, incluindo a perseguição de pessoas que exercem seus direitos reprodutivos; o monitoramento de companheiras e ex-companheiras por parceiros abusivos; a vigilância de crianças e adolescentes por responsáveis; a espionagem de alunos e professores por universidades e escolas; o monitoramento de trabalhadores e até de outras empresas por corporações; e a vigilância de policiais, promotores e juízes por grupos criminosos.
Essas dinâmicas não são novas, mas a digitalização acelerada tornou sua implementação mais rápida, invisível e complexa. Os agentes que vigiam em um contexto podem ser monitorados em outro, e os sujeitos vigiados muitas vezes se tornam alvos de múltiplos atores simultaneamente. Assim, perguntamos: existe uma acumulação social e técnica da vigilância? Quais suas implicações?
O objetivo desta oficina é investigar a expansão, interconexão e ubiquidade das infraestruturas de vigilância, focando especialmente nas articulações entre Estado e setor privado. Pretende-se debater os impactos desse fenômeno na privacidade, segurança da Internet e direitos fundamentais.
Os objetivos específicos da atividade incluem identificar os catalisadores, o grau e o ritmo da expansão e sobreposição dessas infraestruturas, levantar perspectivas sobre os riscos e danos potenciais advindos do uso e do abuso dessa infraestrutura e buscar um intercâmbio sobre o tema.
De especial interesse para essa oficina é avaliar as interações existentes e possíveis entre as diferentes infraestruturas de vigilância, incluindo, mas não se limitando a sistemas de videomonitoramento, computação doméstica e móvel, tecnologias de vigilância baseadas em Inteligência Artificial, como o reconhecimento biométrico, dispositivos conectados à Internet das Coisas e Cidades Inteligentes, entre outras. Espera-se discutir as interações entre essas infraestruturas em contextos diferentes, como nas esferas do trabalho, saúde, educação, finanças, política, cultura e relações íntimas e familiares.
Esta oficina será dividida em duas partes: apresentação de dados e análises pelos pesquisadores e discussão com a audiência. A primeira parte durará 30 minutos e será baseada no trabalho de pesquisa em desenvolvimento dos proponentes. A segunda parte consistirá em uma discussão com o público para trocas e reflexões conjunta sobre as questões tratadas e durará 20 minutos.
Esta oficina será realizada por Pablo Nunes, doutor em Ciência Política pelo IESP/UERJ, coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e fundador do Panóptico e da Rede de Observatórios da Segurança, e por Pedro Amaral, doutorando e mestre em sociologia pelo PPGS/UFPE, membro do Núcleo de Estudos em Políticas de Segurança (UFPE), da Surveillance Studies Network e da Surveillance in The Majority World Research Network, atuando com criptografia, hacking governamental e segurança pública.
Pablo Nunes é doutor em ciência política, coordenador do CESeC, líder do projeto O Panóptico e da Rede de Observatórios da Segurança, focando em segurança pública, novas tecnologias, combate ao racismo e redução da letalidade policial.