16/05/2025 –, Terraço
Idioma: Português brasileiro
O Panóptico/CESeC propõe uma palestra com exibição de máscaras como estratégia de resistência à vigilância algorítmica. Inspiradas em concepções indígenas e africanas, essas máscaras questionam a visão hegemônica do rosto e exploram sua ressignificação como proteção mística, ancestral e política. A atividade discutirá as interseções entre estética, tecnologia e política, refletindo sobre o uso da arte como ferramenta de hackeamento e contestação dos regimes de visibilidade.
A vigilância digital tem transformado o rosto em um dado processável, reforçando dinâmicas de controle e aprofundando desigualdades, especialmente contra grupos minorizados. No Brasil, a rápida expansão do reconhecimento facial expõe milhões à vigilância em espaços públicos e privados, acelerando processos de exclusão e encarceramento. Além de denunciar esses impactos, a palestra busca fomentar alternativas criativas para resistir e reimaginar o papel do rosto na era da vigilância massiva, promovendo a luta por soberania digital e direitos fundamentais.
A vigilância contemporânea opera de maneira cada vez mais sofisticada, convertendo aspectos do corpo humano em dados processáveis por algoritmos. O rosto, elemento central da identidade e produção de sentido, tornou-se um ponto nevrálgico desse processo. A datificação, promovida por sistemas de reconhecimento facial (RF), inscreve os indivíduos em redes de controle, que resvalam em aspectos éticos, de privacidade e que promovem impactos sobre a sociedade, sobretudo contra grupos minorizados, como pessoas negras, mulheres e população trans. O Brasil experimenta uma rápida expansão de projetos de RF, com 82 milhões de pessoas potencialmente vigiadas, segundo dados do Panóptico/CESeC. Em vias públicas, transporte público, estádios ou festividades públicas, onde os projetos vêm sendo implementados, esse fenômeno expõe dinâmicas de poder e dominação que atualizam opressões, aprofundam desigualdades e aceleram o encarceramento em massa.
Nesse cenário, torna-se fundamental buscar estratégias de resistência à vigilância algorítmica. O Panóptico/CESeC parte da ressignificação do conceito de rosto para propor formas alternativas de proteção. Diferente da concepção ocidental hegemônica do rosto como elemento desnudado e transparente da identidade, outras culturas — particularmente indígenas e africanas — operam com um entendimento mais expandido do rosto, que inclui pinturas, ornamentos e máscaras como extensões da identidade e da expressão da subjetividade. As máscaras não apenas ocultam, mas também transformam e ressignificam o rosto, evocando dimensões místicas, ancestrais e políticas.
A ação proposta consiste em uma palestra com exibição de máscaras produzidas pela equipe do Panóptico/CESeC. Essas peças artísticas – anteriormente expostas na Mostra Cultural Consciência Negra, do CCJF – foram desenvolvidas como experimentos de resistência ao RF. A proposta combina arte, tecnologia e crítica social para discutir alternativas à exposição compulsória dos corpos e os impactos da vigilância sobre populações racializadas e periféricas.
A atividade abordará as interseções entre estética, política e tecnologia, refletindo sobre como as máscaras podem ser compreendidas não apenas como barreiras físicas, mas como dispositivos de hackeamento e contestação dos regimes de visibilidade impostos pelo Estado e mercado. O objetivo é fomentar um diálogo interdisciplinar, unindo perspectivas do campo da tecnologia, arte e ciências sociais para questionar e subverter as lógicas da vigilância algorítmica. Além disso, será discutido como o desenvolvimento de tecnologias de RF frequentemente ignora a diversidade fenotípica e cultural, tornando-se instrumento de marginalização.
Espera-se que a discussão leve os participantes a ampliar a compreensão sobre os impactos da vigilância como ferramenta de controle social, não apenas denunciando a violência do controle algorítmico, mas também apontando caminhos criativos para resistir e reimaginar o papel do rosto na era da vigilância massiva. Dessa forma, promove-se um espaço de reflexão sobre alternativas tecnológicas e estéticas que possam ser apropriadas por movimentos sociais e comunidades vulneráveis na luta por direitos fundamentais.
Jornalista, pesquisador, coordenador de comunicação do Panóptico e doutorando em Comunicação e Cultura (PPGCOM/UFRJ)