CryptoRave 2025

Se dados são o novo petróleo, os data centers são as novas refinarias
17/05/2025 , Aaron Swartz
Idioma: Português brasileiro

A expansão dos data centers impulsionada pela popularização da inteligência artificial e dos serviços digitais têm impactos socioambientais e climáticos profundos, que frequentemente são invisibilizados pelo discurso do progresso tecnológico. Enquanto essas infraestruturas são vistas como motores de desenvolvimento econômico, sua implementação tem gerado um consumo massivo de energia, sobrecarga dos recursos hídricos, aumento da produção de lixo eletrônico e intensificação das desigualdades sociais.

Nesta atividade, discutiremos o impacto dos data centers no Brasil e na América Latina, abordando como políticas públicas e incentivos governamentais estão sendo moldados para favorecer a indústria sem considerar as consequências socioambientais e os direitos das populações atingidas. Também refletiremos sobre as estratégias da sociedade civil para exigir maior transparência e responsabilidade no setor, garantindo que qualquer proposta de transformação digital respeite a natureza.


A infraestrutura digital que sustenta a internet é frequentemente retratada como algo imaterial, mas sua operação depende de enormes estruturas físicas, especialmente data centers. Com o avanço da inteligência artificial e a crescente demanda por armazenamento e processamento de dados, a expansão dos data centers está acelerando em todo o mundo, incluindo no Brasil e na América Latina.

Contudo, essa expansão não vem sem custos. Estudos mostram que um único data center de grande escala pode consumir tanta eletricidade quanto uma cidade de 50 mil habitantes, impactando diretamente os sistemas energéticos e hídricos. No Brasil, o consumo agregado dos data centers já equivale ao do estado do Tocantins e pode aumentar até 12 vezes até 2030. O aumento na demanda por energia também impulsiona o uso de combustíveis fósseis, atrasando a transição energética e resultando em tarifas mais altas para os consumidores, aprofundando desigualdades sociais e colocando populações vulneráveis em risco de pobreza energética.

Além disso, há o problema da geração de lixo eletrônico e da extração de minerais essenciais para a fabricação de componentes, como o lítio, que tem provocado conflitos socioambientais em territórios na Argentina, no Chile e no Brasil. Grandes empresas de tecnologia frequentemente argumentam que os impactos socioambientais dos data centers são mínimos e pressionam por isenções fiscais e flexibilização de licenciamentos ambientais para expandir suas operações, como demonstrado em estudos promovidos pela ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) no Brasil.

Diante desse cenário, esta atividade busca:

  • Desconstruir o mito da internet imaterial e evidenciar os impactos socioambientais dos data centers.
  • Debater o papel das Big Techs e do governo na criação de políticas que favorecem a expansão desses empreendimentos sem adequadamente levar em consideração os já provados impactos ambientais e sociais.
  • Apresentar casos de resistência comunitária contra data centers e mineração de lítio na América Latina.
  • Discutir estratégias para incidência política e regulação do setor, garantindo transparência e justiça socioambiental.

O evento será um espaço para reflexões críticas sobre o modelo atual de expansão de data centers e como a sociedade pode pressionar por alternativas que respeitem os limites planetários.

Julia Catão Dias é advogada e cientista social com habilitação em antropologia, mestranda em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, coordena o Programa de Consumo Responsável e Sustentável do Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), onde trabalha pela promoção de modelos de produção e consumo em que a justiça social caminhe junto com a proteção da natureza.

Luã é coordenador da equipe de telecomunicações e direitos digitais do Idec - Instituto de Defesa de Consumidores. Também é mestrando em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e bacharel em Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF).